Umbanda em Ascensão: Entre a Fé Crescente e o Combate ao Racismo Religioso

A Umbanda, religião genuinamente brasileira, vive um momento de significativa expansão no país, de acordo com dados recentes. O Censo Demográfico de 2022, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revelou que o número de adeptos de religiões afro-brasileiras, que englobam a Umbanda e o Candomblé, mais que triplicou em uma década, passando de 0,3% para 1% da população, totalizando mais de 1,8 milhão de pessoas. Este crescimento, no entanto, acontece em meio a um persistente e violento cenário de preconceito e intolerância.

O aumento da visibilidade e da aceitação da Umbanda e do Candomblé é multifacetado e reflete um movimento de valorização da identidade e da cultura afro-brasileira. Especialistas apontam que as campanhas de autodeclaração e a crescente consciência racial têm encorajado mais pessoas a se identificarem abertamente com a fé de matriz africana, onde antes se declaravam como católicas ou espíritas, devido ao sincretismo religioso e ao medo do estigma.

As Razões do Crescimento e as Previsões
O sincretismo, que historicamente uniu elementos do Candomblé, do Catolicismo e do Espiritismo, permitiu à Umbanda se firmar como uma religião de acolhimento e diversidade. A sua base de “Caridade, Amor e Humildade”, focada na comunicação com espíritos guias (como Caboclos e Pretos-Velhos) e no culto aos Orixás (divindades africanas), oferece um caminho espiritual acessível e focado na resolução de problemas práticos e emocionais, o que atrai um número crescente de fiéis de diferentes classes sociais e etnias.

Além da abertura doutrinária, a busca por apoio e acolhimento em um contexto social complexo também impulsiona a procura pelos terreiros, frequentemente descritos como espaços de amparo psicológico e espiritual.

Para os próximos anos, as pretensões de crescimento se baseiam na continuidade da desmistificação da religião e na consolidação da identidade afro-brasileira. Lideranças religiosas preveem um aumento contínuo no número de adeptos à medida que o preconceito diminui e a liberdade religiosa se fortalece na prática social, incentivando a saída da clandestinidade ou da “dupla pertença religiosa” de muitos que ainda temem o julgamento.

O Preconceito e a Luta Contra o Ódio
Apesar do crescimento, membros da Umbanda e de outras religiões de matriz africana continuam a ser as principais vítimas de crimes de intolerância religiosa no Brasil. O preconceito se manifesta de diversas formas: desde a demonização de suas práticas por discursos de ódio, muitas vezes associados a correntes neopentecostais, até ataques diretos aos terreiros, agressões físicas e verbais aos seus líderes e fiéis.

A violência contra essas religiões é, intrinsecamente, uma forma de racismo religioso, pois ataca a ancestralidade e a cultura negra. A depreciação dos Orixás, muitas vezes retratados de forma distorcida, e a associação pejorativa de seus rituais com “magia negra” ou “macumba” – um termo que, ironicamente, significa trabalho ou reza em quimbundo – são manifestações desse racismo estrutural.

Estratégias de Combate e Resistência
O enfrentamento ao racismo religioso tem se dado por meio de uma ampla articulação da sociedade civil e, em alguns casos, com o apoio do poder público.

Conscientização e Educação: A desmistificação e o conhecimento são considerados as principais ferramentas. Lideranças têm trabalhado para levar informações sobre a história, a filosofia e a prática da Umbanda e do Candomblé para as escolas, universidades e para o debate público, buscando quebrar estereótipos e promover o respeito.

Mobilização Legal e Política: O Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa (21 de janeiro), criado em homenagem à Ialorixá Mãe Gilda, assassinada em decorrência de intolerância, simboliza a luta por punição aos agressores. O Ministério Público e as Defensorias Públicas têm sido acionados para combater o discurso de ódio e garantir a proteção dos templos. O racismo religioso é crime, e as denúncias, quando formalizadas, são cruciais para que o Estado atue.

Articulação Inter-Religiosa: O diálogo e a união com outras religiões que defendem a paz e a diversidade têm fortalecido o movimento de combate à intolerância.

O crescimento da Umbanda no Brasil não é apenas um dado estatístico, mas sim a consolidação da resistência e da força de uma fé que, apesar de mais de um século de perseguição e preconceito, reafirma o direito de existir e de prosperar, celebrando a diversidade cultural e a espiritualidade brasileira.

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